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Requalificação profissional: por que soft skills lideram o futuro do trabalho no Brasil

Apesar do alto nível de desemprego no Brasil, o mercado de trabalho enfrenta um dilema crescente: a dificuldade das empresas em encontrar profissionais com as qualificações necessárias para preencher suas vagas. Um artigo recente publicado na revista GV Executivo da FGV , elaborado por Paul Ferreira e Paulo Tadeu de Resende, lança luz sobre essa lacuna e aponta a requalificação profissional como a solução estratégica mais eficaz.

O estudo não apenas diagnostica o problema, mas também detalha como os processos de upskilling (aperfeiçoamento de habilidades) e reskilling (requalificação para novas funções) estão sendo utilizados por empresas e profissionais para construir uma força de trabalho adaptada ao futuro.

O dilema da escassez de talentos no Brasil

A falta de alinhamento entre as necessidades das empresas e as competências disponíveis no mercado é um desafio global. O levantamento Total Workforce Index, da ManpowerGroup, revelou que 75% das empresas globalmente reportam escassez de talentos.

No cenário brasileiro, a situação não é diferente:

  • 67% das organizações no país relatam ser difícil ou muito difícil encontrar profissionais capacitados.
  • 45% das empresas possuíam posições em aberto no momento da pesquisa devido à falta de candidatos aptos.
  • O principal fator citado para essa dificuldade foi a carência de habilidades técnicas (49%).

Diante disso, grandes empresas globais, como PwC, Amazon, Accenture e Microsoft, têm investido massivamente em treinamento , e companhias brasileiras, como Mercado Livre e iFood, têm seguido o mesmo caminho, implementando programas de qualificação e requalificação para sua força de trabalho.

Soft Skills: a habilidade mais desejada

Em um contexto de rápida aceleração tecnológica e digital — intensificada pela pandemia —, é intuitivo pensar que as hard skills (competências técnicas) seriam a prioridade nos treinamentos. Contudo, a pesquisa da FGV aponta uma mudança estratégica no foco das empresas:

“Máquinas podem, por exemplo, resolver problemas matemáticos ou analisar dados de maneira mais eficiente e rápida que seres humanos, porém pessoas são melhores em realizar tarefas que exigem adaptabilidade e pensamento crítico.”

As competências comportamentais e interpessoais (soft skills) são as mais visadas nos processos de upskilling e reskilling, superando as habilidades técnicas.

Soft Skills mais desenvolvidas:

  • Liderança e Gerência: 57%
  • Pensamento Crítico e Tomada de Decisão: 47%
  • Adaptabilidade e Aprendizado Contínuo: 46%
  • Empreendedorismo e Proatividade: 26%

Os autores explicam que as hard skills correm maior risco de obsolescência e substituição por novas tecnologias, enquanto as soft skills têm maior importância a longo prazo. Além disso, a demanda por líderes sêniores com fortes soft skills, como empatia e comunicação efetiva, é cada vez maior para coordenar times globais e resolver problemas complexos.

O impacto no engajamento e na retenção de talentos

Para os colaboradores, a requalificação não é apenas uma necessidade de mercado, mas um fator decisivo para a satisfação e a confiança no emprego.

  • Mais de 90% dos empregados consideram importante ou muito importante que a empresa ofereça oportunidades de upskilling e reskilling.
  • Trabalhadores que passaram por esses programas durante a pandemia se declararam mais satisfeitos em seus empregos.
  • 48% dos profissionais afirmam que a requalificação é efetiva para desempenhar melhor o trabalho e 38% para o aumento da produtividade individual.

Investir em qualificação transforma a empresa em um espaço de aprendizado contínuo, o que impacta diretamente a capacidade de retenção de funcionários, o engajamento e a produtividade.

Dicas para a estratégia de requalificação na sua empresa

Os autores finalizam com recomendações práticas para empresas que desejam se posicionar como protagonistas na qualificação do capital humano:

1´- Diagnóstico e mapeamento de habilidades: É fundamental ter uma compreensão clara das lacunas de habilidades (skill gaps) e das capacidades requeridas para o futuro. Mapeie as áreas, funções e colaboradores mais afetados para direcionar os esforços de upskilling e reskilling com maior eficiência.

2- Envolvimento e comunicação: Os colaboradores devem ser envolvidos e comunicados sobre o sentido estratégico da requalificação. É essencial que eles “naveguem no mesmo barco” que a organização, compreendendo o papel da qualificação no fortalecimento do negócio.

3- Visão de ecossistema: Os benefícios da requalificação vão além do curto prazo, contribuindo para a criação de um banco global de talentos. Colaboradores que se requalificam se tornam mais propensos a buscar aperfeiçoamento por conta própria no futuro.

Ao fazer do desenvolvimento do capital humano uma prioridade estratégica, as empresas não apenas aumentam a produtividade, mas constroem uma vantagem competitiva sustentável e se preparam para o futuro dinâmico e imprevisível.

Fonte: Artigo “O que Fazer Diante da Falta de Profissionais Qualificados?” (GV Executivo, FGV) .