A transição para uma economia global de baixo carbono não é apenas um imperativo ambiental, mas um motor de desenvolvimento e geração de riqueza. No Brasil, essa mudança de paradigma pode ser traduzida em números robustos no mercado de trabalho.
Um estudo recente projeta que a economia verde pode abrir até 7,1 milhões de empregos verdes no Brasil até 2030 e impressionantes 15 milhões até 2050.
O levantamento, intitulado “Empregos do Futuro no Brasil: Transição Justa para Economias de Baixo Carbono” e realizado pela Agenda Pública em parceria com a Fundação Grupo Volkswagen, mapeia o impacto da descarbonização e da transformação digital no mercado de trabalho nacional.
Onde estão as oportunidades no mercado verde?
A pesquisa identifica setores-chave com o maior potencial de criação de vagas sustentáveis, refletindo a urgência em adotar práticas mais responsáveis em todas as esferas econômicas.
Os principais setores de alto potencial incluem:
- Energias renováveis: (eólica, solar, etc.).
- Bioeconomia e restauração ecológica: Criação de valor a partir de ativos biológicos e recuperação de ecossistemas.
- Economia circular e bioplásticos: Setores focados na redução de resíduos e em materiais sustentáveis.
- Construção verde: Práticas e materiais que minimizam o impacto ambiental em edificações.
- Agricultura regenerativa: Métodos que recuperam a saúde do solo e promovem a biodiversidade.
- Mobilidade de baixa emissão: Incluindo veículos elétricos e infraestrutura de carregamento.
- Saneamento: Tratamento e reuso de água e esgoto.
O índice de capacidade de transição sustentável
Para entender onde e como as empresas e governos podem atuar, o estudo criou o Índice de Capacidade de Transição Sustentável Municipal (ICTSM).
O ICTSM é uma ferramenta crucial que combina a vulnerabilidade socioeconômica (como renda, escolaridade e capacidade fiscal) com a capacidade adaptativa dos municípios (qualificação, pesquisa e inovação).
As cinco dimensões analisadas pelo índice são:
- Capital humano: Proporção de profissionais com ensino médio, superior e matrículas em cursos técnicos.
- Inovação e tecnologia: Presença de profissionais em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).
- Diversificação econômica: Nível de concentração setorial, indicando a resiliência do mercado local.
- Capacidade fiscal: receita própria per capita dos municípios;
- Dinamismo empresarial: número de microempreendedores individuais por habitante.
Desafios e potenciais regionais na transição
A transição para uma economia de baixo carbono apresenta um mapa de oportunidades e desafios regionais distintos no Brasil, conforme mapeado pelo estudo.
O Rio de Janeiro enfrenta a necessidade de um processo de reconversão econômica devido à sua forte dependência do setor de petróleo e gás. Em contrapartida, o estado demonstra um potencial significativo em energia offshore e na requalificação profissional para absorver novas demandas.
A região Nordeste, com Bahia e Pernambuco, pode se firmar como uma referência na indústria verde. Polos como Camaçari e Suape têm a chance de se destacar por meio do investimento em hidrogênio, química circular e biotecnologia.
Já o estado de São Paulo, que possui uma robusta cadeia automotiva, está posicionado para liderar a transição para veículos elétricos e manufatura digital. No entanto, o ritmo de adaptação a essas mudanças tecnológicas é apontado como um desafio.
No Centro-Oeste, o Mato Grosso, com sua dependência da agropecuária extensiva, precisa focar na diversificação produtiva. O ponto forte do estado é o grande número de jovens, que pode ser um diferencial estratégico para a mudança.
Por fim, no Norte e Nordeste, Pará e Maranhão abrigam mais de 80 mil jovens, mas a economia regional ainda está concentrada em setores de alta emissão, como a mineração e a produção de papel e celulose.
Desigualdade e o caminho a seguir
A pesquisa alerta que a transição só alcançará seu potencial social máximo com investimentos estruturantes. Um dado crucial é a desigualdade educacional: 42% dos jovens negros (18 a 24 anos) estão fora da escola ou do ensino superior, contra 22% dos jovens brancos na mesma faixa etária.
Para garantir que a transição seja justa, o estudo recomenda:
- Criação de Pactos Territoriais: Estabelecer metas claras, financiamento definido e governança participativa.
- Territorialização de Políticas Nacionais: Integrar instrumentos como a Taxonomia Sustentável Brasileira, a Nova Indústria Brasil e o Plano de Transformação Ecológica nos níveis estadual e municipal.
Conforme destaca Sergio Andrade, diretor-executivo da Agenda Pública e coordenador do estudo, “Modernizar as políticas estaduais e municipais de desenvolvimento é uma urgência estratégica. Não podemos conduzir a transição com instrumentos do passado”.
