A baixa qualificação da mão de obra brasileira é um dos principais obstáculos para a abertura de novos negócios e para os investimentos na expansão das atividades industriais no país. Este problema reflete as deficiências no ensino regular e a pouca adesão a cursos técnicos. Na era da digitalização da economia, a falta de trabalhadores bem preparados impede a adoção de novas tecnologias que podem aumentar a produtividade das empresas. Para que o país cresça de maneira consistente, é essencial avançar nessa área.
A porcentagem de matrículas em cursos técnicos e de qualificação revela o tamanho do desafio e, ao mesmo tempo, o enorme potencial existente. No Brasil, apenas 9% dos alunos do ensino médio estão matriculados em cursos técnicos ou de qualificação. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), esse número é de 43% na União Europeia, 29% no Chile e 24% na Colômbia.
A produção industrial está passando por profundas transformações, impulsionadas pela revolução tecnológica. Devido à digitalização dos processos produtivos, várias ocupações estão mudando radicalmente, enquanto outras estão surgindo. Nos novos ambientes de trabalho, se destacarão aqueles que estiverem confortáveis com novas tecnologias, como a inteligência artificial, e que tiverem capacidade de adaptação e aprendizado contínuo.
A reforma do ensino médio, que diversificou o currículo regular e o aproximou do mundo do trabalho, é um grande avanço por despertar um maior interesse dos jovens pelo ensino técnico. Entretanto, é necessário acelerar sua implementação. Entre 2017 e 2022, o número de matrículas em cursos profissionalizantes aumentou de 1,8 milhão para 2,1 milhões — um crescimento de quase 17%, mas ainda insuficiente frente à meta do Plano Nacional de Educação de alcançar 4,8 milhões de matrículas até o final de 2024.
O objetivo da educação profissional e tecnológica é preparar os alunos para o exercício de uma profissão em diversos setores da economia. Estão enquadrados nessa modalidade cursos técnicos e de qualificação, graduação tecnológica (formação de tecnólogos), mestrados e doutorados profissionalizantes. As principais instituições que atuam nessa área incluem os serviços nacionais de aprendizagem por setor econômico, como o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), os institutos federais de educação, ciência e tecnologia, escolas técnicas vinculadas a universidades e entidades privadas.
Em uma recente pesquisa realizada pelo Senai e pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) com 1.001 executivos de indústrias, 75% afirmaram que os cursos profissionalizantes atendem melhor às necessidades do mercado do que o ensino superior. Nove em cada dez entrevistados concordam que esses cursos permitem um ingresso mais rápido no mercado de trabalho, enquanto 21% defendem que essa modalidade deve ser uma prioridade na agenda educacional do governo.
De acordo com um levantamento do Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apenas nos setores de logística e transporte, construção civil, vestuário e energia, será necessário requalificar, até 2025, cerca de 2 milhões de trabalhadores já empregados, além de outros 534 mil que deverão ser contratados no período.
Essas vagas — e as que estão sendo criadas em outros setores da indústria — vão exigir uma vasta atualização de conhecimentos técnicos, reforçando o papel da educação profissional na qualificação de trabalhadores para funções típicas da indústria 4.0, mais complexas do que as da produção convencional.
Diante dos grandes desafios que temos pela frente, a educação voltada para o novo mundo do trabalho é um investimento crucial para a retomada do crescimento econômico do Brasil, de maneira mais vigorosa e sustentável. Por isso, deve estar no centro da estratégia tanto do setor público quanto da iniciativa privada.
Qualificando nossos trabalhadores, especialmente os mais jovens, avançaremos de forma mais sólida em direção ao desenvolvimento econômico e social do país.
Fonte: Agência de notícias da indústria